14.4.10

considerações I

Meu interesse pela Moda, assim como as Gurias do Modamanifesto, sempre foram para além do óbvio. Curto mesmo o tema para além do que seu mote principal acarreta: consumo. Nunca disse que penso-a fora do espaço do capitalismo. Nunca entrei nessa ceara. É um tanto perigoso, pois é tema bastante profundo e requer minha atenção de pesquisa e longo texto. Mas penso sim ALÉM do consumo. Moda está dentro não estritamente neste domínio.
Por onde meu caminho passa? Pelo caminho de Ana Mery De Carli: o sensacional. Busco nas passarelas, nos editoriais, na rua, imagens que transbordem sentido e que, por isso, afetem as pessoas. Me entedia a foto pronta para o consumo; a modelo que exibe uma emoção já prevista e vivida por vários setores da sociedade. O que vivemos não nos é mais surpreendente. Isso não me interessa. Como Lenine logo abaixo exaltado no outro post.
Difícil achar na produção de moda regional brasileira (com raríssimas exceções) algo que nos afete assim. Quando existe precisamos garimpar com lupa potente, pois não interessa à grande mídia ligada estritamente ao consumo. E também pq todos precisam viver, comer, e fazer moda assim requer sacrifícios. Criação é dureza sim.
Na semana passada vi na passarela no evento comercial Donna Fashion Iguatemi a criação (que já conhecia em outros espaços) de Greice Antes.
Em “Tiro” Greice não atira o Tiro violento; a estilista brinca com o tira-põe do vestuário em cores quase infantis (alegres) no limpo algodão. Só faltava cheirar à alecrim. Belo. Puro. Sensacional. Não há roupa que se Tire sem despudorar-se; mas a estilista propõe que o Tiro seja vestir, mesmo que o Tiro fure sutilmente (com muito pudor e elegância) o tecido. O modelo apresentado dessa coleção é lindo. Por ventura encaixa-se perfeitamente no estilo que me identifico. Mas isso é apenas motivo para eu achar Greice lindinha além de competentíssima, que é o que importa.
Em “Linha” a elegância pesada de Iberê surge lascando as menininhas. É chique, impiedoso. Greice veste mulher forte. A modelo soube portar-se, foi belo. Quem conhece a obra de Iberê Camargo sabe dessa dureza, desse sentimento palpável que poucos parecem suportar (na obra). As telas chegam a ter volume tal o peso da tinta precisa carregar para expressar o que precisou ser dito sobre o homem contemporâneo a Iberê. Greice capturou isso e fez uma mulher potente. Batom vermelho (agora não recordo, mas só consigo imaginar essa cor na boca da modelo), unhas bem feitas, sapato alto e caminhar firme e, é claro, elegante.
Eu ainda vou desejar, vou sonhar com outros cenários para a moda da cidade onde vivo. Foi esse o sonho de Alice de Carroll (tema do evento) aliás. Um espaço onde Greices possam mostrar em passarelas tão fantásticas quanto os Tiros que não me violentaram e os Iberês que mostram elegância e sofrimento compatíveis, suas criações para quem usa ver.

Um comentário:

  1. Querida, GRANDE Helena. Ninguém descreveu tão bem o intuito das criações de Greice Antes como você!
    Belas palavras.
    Com amor de irmã,
    Kelly Antes

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