14.10.10

DESING MAIS: minhas impressões acerda do ótimo evento

Ontem fui ao Design Mais promovido pela Escola de Design da Unisinos e sediado na praça de alimentação do Moinhos Shopping.

As convidadas foram as gurias da Oferenda (http://www.oferenda.net/) e a múltipla (http://www.manabernardes.com.br/).

As apresentações foram potentes, belas, intensas. Cada uma com sua forma singular de pensar a beleza e a sustentabilidade foram aos poucos apontando caminhos possíveis num universo do design para além da produção industrial.

Só isso já rende por si uma enorme força de ato criativo, de transformação de si e social. Não há como mudar o mundo sem mudar a si e vive-versa. Esta foi uma das sensações que me tomaram ao ouví-las.

A mediação ficou por conta de uma jornalista (aiaiai essa memória...) que lançou as questões que a platéia pretendeu fazer. Digo, foi perspicaz ao lançar mão da problematização dos conceitos (sustentabilidade, por exmplo) e das experiências de cada uma.

Os projetos apresentados tem semelhanças na forma de produção. As três designers imaginam seus produtos e propõe a comunidade (que elas mesmas auxiliam na capacitação, na formação de coletivos potentes) carente a possibilidade de replicação. Tudo é manufaturado. Esse é o princípio máximo em questão: o artesanado está morrendo e o Brasil precisa resgatá-lo sem ranço do passado: uma manufatura nova, contextualizada com o desejo presente nos artesãos e nas suas comunidades.

Porém senti em mim uma inquietação. Deixe-me explicar... Quando penso em criação, moda, no meu Brechó (eu e minha possessividade), em arte e alguns outros conceitos me vem tudo isso à cabeça. Mas vem mais. Tenho a necessidade de sentir que o que é belo, o que traz verdade seja imperativo. Sim, sou conservadoa. Opa! Pois é, em minha veia anarquista, de que cada criação precisa impor-se para ser vista, há uma necessidade manifesta: não penso ser possível no mundo desigual uma anarquia produtiva verídica. Há sim uma indignação em mim que solicita parcerias para tornar dessas belas produções mais visíveis.

Fui criada dentro da discussão, ou melhor, da problematização: gosto se discute? Hoje acredito que o desejo não se discute, entretanto formação cultural, educação e educação para a produção (vida e espaço político dentro de sua comunidade) são elementos que fazem toda diferença na vida social e profissional dos sujeitos.

Nâo entendo de forma passiva a realidade de uma comunidade batalhando para ser vista e essa condição depender da boa vontade da mídia de mostrar ao mundo (ou pior, na novela das oito) seu produto.

Por isso falei aqui no Talentos do Brasil e divulguei o Meias Órfãs. Meu desejo é que mais e mais espaços se abram para uma verdade que comunique intensidade e não somente consumo, futilidade. Todos precisam vender seu trabalho para viver. Mas que o trabalho seja esforço, pensamento, ideia, beleza.

Eis que ao final do encontro surge uma ouvinte, artesã que relata que ama seu trabalho e que é muito elogiada por ele. Ainda acrescenta que não gostaria que seu trabalho fosse tido como feio. Sabiamente Mana Bernardes, em um intuito (ao meu ver) de acolher e provocar, devolve à ouvinte que ela deve acreditar em seu trabalho acima de tudo; acima de críticas positivas e negativas. Eis que ecoa como um brado de socorro no frio Shopping Center as palavras da artesã: tenho fé no meu trabalho, mas gostaria que as pessoas não dissessem que ele é feio.

Eu chamaria isso de um puta analisador.

Os trabalhos ali apresentados e sua implicação com a verdade e a beleza são indiscutíveis. Entretanto a fala esquecida na multidão nos fala de algo mais. Nos fala que o mundo não é justo e que até que cheguemos a um patamar de apropriação dos nossos próprios sentimentos, bons e ruins (no trabalho, na crição, na vida), há que se pensar em políticas de inclusão sim. Uma política pública que ponha fim ou, no mínimo, dê condições de todos "autorarem" suas produções.

Mana Bernardes terminou com uma fala-manifesto. Belíssima. Uma tentativa de sensibilizar o público a replicar uma ideia: a manufatura e o artesanado estão em extinção no país. Belo, verídico, mas eu vou além.

Outrora vivemos em uma sociedade onde quem detia as riquezas comprava o que podia. E podia tudo, dada a perversidade das relações (escravatura mesmo, desigualdade social ao extremo). Podia comprar o que era belo, a manufatura era o disponível na época. Bem, as relações sociais mudaram: hoje ainda vigora esta casta, entretanto as relações tornaram-se perversas sob outros aspectos. Um deles é o fato de o dinheiro comprar o que pode: incluindo pessoas. Compram-se ideias e soluções. Mas tudo o que vem pronto é incompleto. tudo o que é fácil dá menos trabalho e apodrece. A podridão que a mídia insiste em nos colocar guela abaixo eu não posso digerir. Jamais compraria um lindo colar de Mana Bernardes ou elegantes e aconchegantes suplas da Oferenda caso aparecessem na novela das oito. Eu digo não com a força da artesã que bradou para todos ouvirem seu protesto (in)consciente. O esforço para que designer tão competentes como estas cheguem a nós não pode estar apenas em iniciativas de universidades. Quero comprar as jóias da Mana fora dos museus: em joalherias.

E a sua opção, qual é?

Um comentário:

  1. Helena, eu também estava na platéia. Gostei da pergunta que fez lá e das colocações sobre seu brechó. Identifiquei-me com tua abordagem por ser muito semelhante a que utilizo no meu trabalho, e na minha vida.
    Desde 2006, quando projetei a primeira coleção de joias com materiais alternativos e reaproveitados, tenho visto muita gente fazer cara feia pro meu trabalho. Sei que isso dificultou também minha empregabilidade pois, grandes joalherias e algumas instituições (que se intitulam inovadoras), fecharam as portas no meu nariz, quando viram que meu portfólio estava focado em uma proposta de trabalho sustentável e de design coletivo. Meu trabalho (http://valescabender.blogspot.com) muito se assemelha com o das meninas e embora encontre muitas dificuldades pelo caminho, ainda não desisti.
    Ótimo debate, ótimo post. O nome da mediadora é Queli Giuratti. Adorei seu blog, bjs.

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