A Marcela é uma guria tri querida da capital: antenadíssima no que rola em Porto Alegre e no mundo, é educada, tem bom gosto (que neste caso será lido como capacidade de mesclar elementos de sua "pesquisa do mundo" com sua construção estética mantendo a harmonia) e provou ser aberta a suas próprias criações no quesito moda.
Eu a conheci graças aos Brechó de Troca na Pó de Estrela. Lá ela foi em um e tentou ir em muitos outros. Nos cruzamos em um Brechó dos Amigos (as peças que ela levou eu achei ótimas!) e eu descobri que ela já dançou, como eu. Papos de história de vida... Descobri que ela é jornalista e senti que aí estava sua veia antenada.
Eis que um dia abro meu e-mail e abro um convite inusitado da Marcela: ela abre sua casa para amigas e conhecidas (quem sabe um dia não chego na primeira categoria ;-)) para uma tarde de doações. Ela propunha que cada guria fosse de peito aberto para admirar e acolher sobras bem escolhidas de seu guarda-roupas. Digo sobra para diferenciar de resto que, no meu entendimento são coisas muuuito diferentes. O resto é aquela coisa "eca" que ficou esquecida num canto e não serve mais para ninguém, pois é velha, desgastada e muito descuidada. Já a sobra é o excedente. São coisas que guardamos com certo cuidado, pois escolhemos ou ganhamos e estão atravessadas por um tanto de afeto; podem não nada a ver conosco, mas faz um sentido tê-las por um certo tempo. Quando perde o sentido ainda há pessoas que podem se valer.
Eu sempre acho que tudo pode ser ressignificado, até o resto. Mas saber que alguém preparou uma tarde e guardou suas sobras queridas para um seleto grupo tem um gosto tão especial...
Mas não é só da minha sensação que quero falar. A Marcela mostra com essa atitude que podemos manter realções pouco malucas com o vestir. Ela referiu que tem determinado espaço para organizar suas roupas e acessórios e, por ora (não falamos sobre tempo, planos) é assim que deve ser. Ela tem um apartamento lindo, com um cuidado todo especial para manter a memória arquitetônica já existente (acho um luxo, diga-se de passagem) e a organização é marca presente.
Marcela me parece vestir de forma criativa, com bom gosto, estilo e com uma dose de organização. Ela percebe que há muito para vestir, brincar, usar e que, para tanto é necessário uma dose de responsabiliadade e ela pôde inventar uma forma divertida, sustentável, acolhedora de manifestar seu encanto pela moda: fez um brechó de doações. Para completar ela escolher peças que lhe custaram literalmente pequenas fábulas (porque muitas roupas são caras mesmo, levam tempo para serem feitas, ou seus tecidos são caros...) e pediu um valor quase simbólico por elas. O legal disso é que faz pensar que a gente não vive de vento, que para manter a roda girando a gente precisa equilibrar até as contas. Este encontro foi um exemplo da construção de um estilo, uma lógica para vestir: a Marcela sabe o que quer usar, por quanto tempo e o que vale a pena guardar ou passar adiante. Essas são escolhas dificílimas: não é futilidade não, pense que cada peça toca nossa pele e influencia nosso comportamento, a forma como somos vistos e consequentemente nossa relação com o outro e humor. É um dos elementos que nos faz estar no mundo, nos relacionarmos: o vestir. Não dá para dizer exatamente qual o pão que alimenta nossa alma. Mas podemos delinear caminhos que nos saciem e a moda, o vestir é um deles.
Trago o exemplo da iniciativa da Marcela de seu Brechó de Doação como mais uma forma de construi um estilo para o vestir. E também para partilhar a experiência e estimular que o façam entre amigos, parentes... Que a roupa circule!
E para circular por aqui também o link do blog da Marcela: http://qualquer.org/petite/
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