21.6.11

MODA LA - inteligência e coerência a começar pelo caminhar

Não há como manter-se alienado a gigantesca oxigenação cultural que vem acontecido há cerca de 15 anos nas relações Brasil-Latinoamerica.
Um tanto antes do 1º Fórum Social Mundial, reposta político-cultural ao Fórum Econômico de Davos, iniciava a retomada da comunicação entre nós brasileiros e os países de colonização espanhola da América Latina.

Foram 20 anos de Ditadura Militar. Foram 20 anos de anulação explícita de qualquer expressão de singularidade dos povos deste continente. Foram 20 anos de silenciamento de qualquer diálogo direto. tudo pelo crivo da CIA estadunidense. Não sabe disso? Então sai da frente do computador e leia Carta Capital, Caros Amigos ou tantos blogs e colunistas que dizem a verdade que não estás interessado em saber.

Mas alguns especialista nos indicam que para cada ano de ditadura (militar u não) é necessários vários para retomar a auto-estima, autonomia e o processo de democratização de um povo. Somos adolescentes, no máximo, neste processo. E temos um agravante: diferentemente dos outros povos latinoamericanos, nossa colonização passou por um pacto das oligarquias em manter a escravatura e não lutar por independência. Que diabos isso quer dizer? Foi interesse dos grandões da época em manter a escravatura para continuar explorando esta terra de índios sábios e fazer uma independência não-independente atrelada à Portugal. Objetivo? Manter os escravos quietinhos e evitar guerras que sempre desencadeiam perdas enormes. O resultado é um processo cultural com pequenos nichos de resistência. Pouquíssimos artistas se propuseram a manter contato com a produção cultural do resto do continente. 

Não vou fazer uma relação aqui da força de poetas, compositores, artistas plásticos, arquitetos, bailarinos e estilistas. Na verdade não seria uma lista tão grande quanto a de delatores do regime militar. Mas vamos combinar, esse texto ficaria massante.

Hoje, após multiplicação de movimentos socio-culturais que pretenderam e conseguiram retomar os diálogos de Brasil com a América Latina, chega à classe média uma reverberação disso. Não há mais pré-conceito em usar uma bombacha castellana, ouvir Mercedes Sosa e falar da morte de Jango. 

E os ventos sopram para todas as produções culturais. Para mim é o alento maior ver este minuano chegando também na Moda. São marcas que dialogam com a identidade latina, que brincam com esse jeito aguerrido de ser.

Isso se vê na reafimação do uso de roupas de brechós (tão difundidos em Buenos Aires), nas modelagens confortáveis, no uso do tema étnico de cores e também nas marcas simpáticas que apareceram. eu exalto aqui duas marcas com produtos "iguais", porém não concorrentes ao meu ver. Alpargatas. O calçado do gaucho, símbolo do caminhar errante, "de guaxos e de sombras", como diria minha querida Joana Bosak. As marcas subvertem a imagem verdadeiramente dura, forte, sofrida deste povo numa brincadeira jovem, alegre e criativa. 

 coleção de las paez
modelo da bornee

Ainda não calcei. Desejo que meu filho goste de algum. Porque? Lembro-me do poema que não canso de replicar de Antonio Machado 

“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.”
“Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.”

Desejo que "os meus" possam usar nos pés representações estilísticas que possibilitem a construção de uma identidade latinoamericana coerente. O frescor de Bornee e Las Paez nos dão essa possibilidade. 






Um comentário:

  1. Querida Helena,
    estou te seguindo aqui. Amo las alpercatas, que vieram da Espanha, bem como muitos motivos de nossa indumentária tão mestiça. Beijo grande
    Joana

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