20.8.12

Moda, uma política para (o) vestir


A roupa é produção simbólica do ser humano. Isso vale dizer que cada escolha que fazemos ao adquirir uma peça (no caso dos produtores acrescentaria o investimento do trabalho), usá-la e a escolha por descartá-la, está articulada com nossos valores, gostos e ao que somos. Se o estilista, a modelista, o cortador, a costureira e demais profissionais do setor são responsáveis pelo que chega às vitrines, nós, consumidores e cidadãos, também estamos implicados através de nossas escolhas, de como adquirimos o que vamos colocar em nosso guarda-roupa e o que vestiremos na rua. Foi a partir desta ideia que a Moda foi acolhida como Política Pública na Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura. Vestimos o que somos capazes de produzir, de criar, de nos responsabilizar; vestimos o que somos.
Agora, alguns dados. O Brasil é o 5º maior parque têxtil do mundo. Internamente, isto representa 13,15% dos empregos na indústria de transformação e cerca de 3,5% do PIB nacional. E estes dados não estão articulados ao Ministério da Cultura. Particularmente considero os números bastante expressivos. Mas para pensarmos no tema inicial, é preciso outros. Em Porto Alegre são quatro cursos de graduação em Design de Moda, inúmeros em nível de formação básica (no Senai cerca de oito constantes, e ainda vários em modalidade EAD no Senac, além de incontáveis em escolas privadas, desde acabamento, passando por chapelaria, corsetaria, marketing de vendas e de marca, alfaiataria, etc). E ainda: só neste ano a Campanha do Agasalho (do município) divulgou a arrecadação de mais de 94.000 peças.
Bem, onde esses números e dados se encontram? Na crítica e reflexão da articulação da inexistente política para uma economia criativa no setor da moda no Município com as mentes formadoras de mão-de-obra. Se de um lado o país é visto como referência mundial no setor, no Sul (faltam números, mas ousaria afirmar que no país todo) há também um excesso de produção em relação à demanda da população, que descarta um número expressivo de roupas em campanhas assistencialistas sem valor simbólico (mas necessária ao problema sazonal de extremo frio). Bem, profissionais não faltam para criarem soluções de acesso à moda, resoluções para o problema do descarte, transformação das peças. O fato é que Porto Alegre mostra-se tímida e conservadora para lidar com seu potencial. Precisamos vestir. Que seja então de forma criativa, rica em ideias, em generosidade com quem necessita e bela como seu por do sol inigualável. É necessária a implementação urgente de observatórios de demandas do setor (de acesso à moda, do número de profissionais, do descarte, dos resíduos, etc) para, enfim, propor a criação de uma Política Pública ligada à economia criativa (não necessariamente à indústria criativa, mas principalmente ao setor da Cultura somando seu potencial aos demais projetos).
Nossa cidade é conhecida como berço de grandes mentes e ideias. Não vamos deixá-las cruzar fronteiras por falta de iniciativas coletivas e esforço público para manter seu trabalho com raízes porto-alegrenses. Queremos vestir a elegância com uma bandeira daqui. Que nossos profissionais levem ao mundo a diversidade que puderam demonstrar em seus trabalhos férteis na nossa Porto Alegre.

Um comentário:

  1. Olá Helena!
    Sucesso aos estilistas!
    Parabéns pelo blog e pela postagem! Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar INFAUSTA CORRIDA no http://jefhcardoso.blogspot.com
    Tenha uma excelente semana.
    Abraço!

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