14.5.13

Ronaldo Fraga - Cadernos de roupas, memórias e croquis



Hoje minha vida misturou, bagunçou tudo. Já escrevi aqui minha predileção ao Ronaldo Fraga. Acredito ser ele o maior expoente da moda nacional na atualidade pq seu trabalho alia ética, comprometimento com implicação com o aqui e agora de seu lugar no mundo. No caso brasileiro, mineiro, de origens simples, pai, etc. 

Bem, Ronaldo lançou, com textos das incríveis Regina Guerreiro, Cristiane Mesquita e Costanza Pascolato, seu livro "Caderno de Roupas, Memórias e Croquis". Foi um evento promovido pela FestiPoa Literária. Um evento da palavra: uma celebração da palavra em seus mais ricos formatos. E só Ronaldo para trazer a palavra da moda, ou o nome da moda para este circuito. 

Palestrou lindamente, com sua segurança, repertório. Teve mediação de Gi Vatroi que enriqueceu a discussão. 
O estilista a todo tempo eleva a importância do interesse de quem cria nas coisas que lhe compõe. Refere que as angústias que nos habitam são matéria-prima para o trabalho, para as pesquisas. Sobre o desenho fala:

"O desenho te liberta: te faz dono, senão da história inteira, do ponto de partida. Desenho é igual bordado: não existe desenho feio; a segurança de um traço é que é bonito. O desenho é um bordado, é um bordado à lápis sobre o papel."

E depois acrescenta uma metáfora linda... Entende  o desenho como um afago, como contar uma história para uma criança dormir. A criança pede a história pois quer dormir. 
Bem, lembrei de um depoimento que Carlos Urbim fez a meu filho, que o entrevistou para trabalho escolar na semana passada. O autor gaúcho relatou que começou a escrever para o universo infantil para seus filhos, pois contava histórias inéditas e no dia seguinte não sabia reproduzi-las (pois todas as crianças pedem que as histórias sejam repetidas inúmeras vezes). E então? A criança quer adormecer, e por isso inventamos um mundo de linguagens para dar conta dessa exaustão infantil (para tentar fazê-los sucumbir ao sono)? O trabalho do estilista, do artista, da poesia me parecem, cada vez mais, alentos sim, para nós e para o outro. Cada criança que adormece (que numa metáfora pode ser a nossa dor) parece dar ao mundo a responsabilidade de seguir buscando um lugar menos duro, menos violento, menos injusto quando acordar. 

Ronaldo nos dá poesia...

Obrigada mineirinho fantástico. 




p.s.: E ganhei um gentil autógrafo!! 

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