26.8.13

eu visto, tu vestes, ele escreve, nós lemos, vós desfilais, eles conversam

Há algumas semanas comecei um texto (que vem em breve) para o blog e não publiquei. Bom: tudo tem a sua hora. Isso porque meu motivador era um sentimento de indignação com várias coisas do cotidiano e uma vontade de produzir. Há tempos não tinha esse gás. 
Eis que não publico e, é claro, a indignação não vai embora. Muito pelo contrário! Fico sabendo que a ABIT anunciou prognósticos drásticos para a indústria têxtil brasileira (morte, fim, the end, c'est fini: isso mesmo) e mais algumas atrocidades que tenho visto por aí. 
Passei uma semana meio azeda, tentei poupar "os meus", mas acho que sempre sobra e odeio isso. Acordei hoje lembrando que poderia ser o chamado "inferno astral", já que farei aniversário em breve. E eu gostaria que 2013 fosse um ano eterno. 
Bem, independente do que se passou, dos motivos do meu incômodo fui atrás de palavras a dizer no BT deste último sábado. A abertura que dou aos encontros é o "meu momento". Não é algo narcísico (bem até é, e daí?), mas um momento em que me esforço para estar o mais inteira possível para as pessoas que vieram prestigiar meu trabalho: preciso e devo, por ética, me entregar. 
E eu naquela nheca... No final da manhã quase bateu desespero: o que eu vou levar?! É só notícia ruim pra moda! Será que levo as notícias? Mas o que o pessoas tem a ver com isso? Afinal só de ir ao BT já estão exercendo um novo jeito de fazer moda; não há mais o que solicitá-las. E é no inferno que nos encontramos...
A indecente Hilda Hilst pula da mesinha de leitura e me convoca

Para poder morrer 
Guardo insultos e agulhas
Entre s sedas do luto.

Para poder morrer 
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as pareces
Derruídas.

Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.

Porque assim é preciso
Para que tu vivas.


Me remoendo de felicidade, pelo presente da escritora, vou mais leve ao trabalho. E eis que o encontro vai se fazendo... O lugar que a Clássica com Pimenta me reserva agora é uma gostosura: parece a sala da casa que eu gostaria de ter! O quorum tem tamanho preciso. As presenças são de clientes muito fiéis e queridas com uma pitada de novas aventureiras muito disponíveis. De quebra minha indignação com o fast fashion e as atuais notícais da moda se desfazem com o inusitado do encontro: Thaís e Carol trazer dois casacos IGUAIS. É como se tivesse vencido uma pequena batalha frente as araras vorazes das megastores. E falta casaco! Cada um tem a sua história e ambas são desejadas produzindo uma demanda de novas ressignificações. Divertidíssimo! 

Neste encontro me permito participar. De forma mais comedida, no estilo "se rolar rolou". Minhas clientes são tão acolhedoras com minha escolha... E vou tocando nas sedas, vou sugerindo combinações como que desarmando o desejo voraz, vou vestindo cada sugestão que me dão para melhorar o espaço, cada encontro que ali se faz.
... e no final eis que faço viva a ideia deste meu trabalho morrendo. E para isso até visto linda cambraia. 





obrigada Rose, Carol, Thaís e Marília sempre
também a alegria da novidade de Helena, Annacris e Cleusa

p.s.: e foram mais de 40 trocas!!! mais de 40 peças de roupas que seguirão sendo usadas por bem mais tempo!
p.s.: a Annacris me presenteou com uma doce análise "melhor vir aqui e curtir um bate papo trocando roupas do que passar uma tarde chuvosa e fria se endividando em um shopping center": DEMAIS!!!

Um comentário:

  1. Obrigada a vc, querida, pelo seu lindo trabalho. beijão e até o próximo BT!

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