Em tempos violentos e de produção de desamparo, a aproximação cuidadosa de diferentes autores que nos auxiliem a pensar como tamanha dor vem se produzindo parece pertinente. Abaixo divulgação de curso que nos ajuda nessas reflexões.
Na pena de Michel Foucault vimos que as relações sociais não acontecem no vácuo, mas são configuradas pelos “jogos de poder” que estruturam a práxis política. Com ele também aprendemos que o poder não é algo que se tem, mas algo que se exerce a partir de posições estratégicas. Neste sentido, o poder não se restringe às relações de dominação instituídas legalmente, mas opera para além delas. Podemos concebê-lo como “jogos estratégicos entre liberdades” para insistir que não há o poder, mas poderes que se atualizam como “jogos estratégicos que fazem com que uns tentem determinar a conduta de outros, ao que os outros tentam responder não deixando sua conduta ser determinada, ou determinando, em troca, a conduta dos outros” (Foucault, [1984] 2004, p. 285). Não percamos de vista, também, que a trama social é tecida pelos sujeitos imersos em relações de poder, mas igualmente pelos sujeitos imersos em efeitos de significação, ou seja, há uma implicação inextricável entre poder e saber: o poder produz saber. Lacan se aproximou da teoria da discursividade foucaultiana e nos mostrou que a “ordem dos discursos” pertence à dimensão simbólica, o lugar do Outro enquanto a dimensão na qual, para a psicanálise, o jogo político é jogado. Pensando em como o gozo circula no laço social e nas consequências políticas dessa circulação, Lacan articulou o campo da linguagem ao campo do gozo para criar sua teoria da discursividade e com ela nos mostrou que todo discurso tem como efeito um sujeito (Lacan, 1969-1970/1992). É visível que a proliferação de discursos totalitários produz efeitos éticos e políticos problemáticos no campo do sujeito, mas vale a aposta de que a potência disruptiva da pulsão pode produzir brechas democráticas na tessitura espessa do laço social contemporâneo.
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