Desde muito cedo meu olhar sobre a vida passa sobre o vestir, sobre a relação das pessoas com sua imagem corporal. Quando criança pude deixar fluir a imaginação em criações de moda. As lojas de tecido eram um caldeirão onde eu podia pensar que sairiam vestidos, blusas, calças perfeitas para qualquer situação; principalmente as adversas. Minhas ilusões eram criadas ali...
O mundo de faz-de-conta deste 'pré-estilismo' sempre ajudou-me a suportar minhas diferenças perante minhas diferenças perante meus pares e também a manter aguçada minha curiosidade. Fui uma menina que observava (com certo encantamento) as garotas mais descoladas a partir do que elas vestiam. Isso me ajudava à entendê-las e, consequentemente entender-me.
A diferença nos possibilita isto: ao conhecer o outro, estudá-lo, nos permite uma abertura em nossa subjetividade.
Foi esta curiosidade (junto com um punhado de confusão) que passei no vestibular de Psicologia. O curso foi árduo (entre outros motivos pelo tempo: 7 anos e meio!!), muitas vezes chato. Um objetivo obscuro era o de instrumentalizar-me para conhecer o próximo, saber como nos constituímos como indivíduos, como seres que sofrem e como descobrimos e criamos felicidade (se é que somos capazes disso). E, desse período pude experimentar situações acadêmico-sentimentais que, para mim, foram paradoxais. Se em alguns momentos joguei-me aos mais diversos temas de estudo da subjetividade, em outros não fui honesta o suficiente pra reconhecer que a Moda é o meu tema. A Moda é um poderoso olhar, ou ainda, um fio condutor que significa o humano, que traduz o que somos através de seus significantes.
O importante no pós-formação (ou seja, do trajeto pessoal após qualquer tipo de formação) e também o mais difícil, é costurar seus próprios alinhavos; fazer de uma peça piloto uma coleção, de retalhos um patchwork. E o grande desafio me parece ser fazer das imagens, sejam de infância ou de signos inesperados da moda, algo Incompleto, algo instigante. Olhar para o inesperado e fazer dele um aceitável ou mesmo belo é árduo.
Se uma imagem perfeita produz moda; a imagem imperfeita produz estilo.
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