6.10.10

TALENTO NOSSO

Este ano Porto Alegre sediou um dos eventos mais interessantes a que pude visitar. De 13 a 16 de maio último os armagens do Cais do Porto do meu Porto Poá se abriram para 350 empreendimentos familiares de todo Brasil Rural.
Dá para imaginar esse recorte? 350 representantes de toda área rural desse Brasilzão em um só local?
Deixe-me dar uma descrissão e parar com essa descrisão apaixonada e pouco precisa da importância de eventos como esse.



No nosso estado, por exemplo, de toda produção rural, 86% da produção (ainda não fizemos reforma agrária, lembram? isso quer dizer que há muitos espaços improdutivos ainda!!!!) vem da agricultura familiar.

Não tenho aqui os dados sobre a representatividade no PIB nacional. Entretanto o mais importante para mim neste momento é ressaltar quanta coisa sai dessa produção e eu, tu, nós moradores de metrópolis não tomamos conhecimento. São produtos manufaturados, com excelência em criatividade, em pureza (o algodão puro, o linho fibrado, a lã 100%) e brasilidade. São comunidades onde a influência externa ainda não afetam o trabalho ao ponto de descaracterizar o sentimento de ser sertanejo, gáucho, caipira, enfim, o Homem do campo.

A produção do evento já apontava o caráter de esforço para tornar visível o potencial do Brasil Rural: um imenso deck com praça de alimentação 1000000000X melhor do que QUALQUER shoping center de capital (gente educada, conversa rolando solta, excelente e saudável comidas e bebidas e, para completar, o visual de um dos mais expressivos pôr do sol do mundo); e ambientes belos, atrativos, sacolas em algodão para carregar nosso consumo da feira.

Cada pavilhão comportava um tipo de produto. Havia o divertido pavilhão dos alcoólicos (nunca vi tanta cachaça cheirosa!), o dos comes. Um deles travia alguns procutos de higiene e derivados (sabonetes, por exemplo), decoração (tapetes, cestos, etc) e um núcleo de moda. Ah, o núcleo...



No meio do pavilhão um "subpavilhão" todo branco, com vitrines viradas para a parte interna do pavilhão. Confuso? Lá não me pareceu. Não sou capaz de descrever melhor...

Lá dentro coleções elaboradas com os mais puros materiais. Não apenas o linho, algodão e lã, mas também fibras de frutos e caules vindos dos cantos mais remotos do país. Colorações ímpares feitas com tintas que nunca vi igual. Não é exagero: tecnologia é a possibilidade de criar soluções novas independente das ferramentas que se tem.

A criatividade não deixa a desejar qualquer criador de semana de moda ncional ou internacional: são modelagens, cortes, recortes incríveis. E o acabamento é perfeito. Mãos brasileiras, acostumadas à exigência da "Casa Grande" e por isso produzem a excelência do ponto a mão, do bordado com acabamento invisível. Para mim, criada dentro de lojas de tecido e observando criticamente as golas tortas de vitrines do Iguatemi, esse critério é essencial.




Saí de lá feliz. Satisfeita por ter tido acesso a tal produção. Fui atrás de mais informação. Descobri que as marcas (ou grupos familiares ou comunidades) que estavam expostas na feira (particularmnte me debruço na seção de moda) fizeram parte do projeto/concurso Talentos do Brasil (http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/talentosdobrasil). A iniciativa é um projeto de política pública para valorizar a identidade cultural, promover a geração de renda. O foco é o MERCADO!! Resalto isso porque é uma das ações deste projeto que desejo focar neste post.


O programa oferece oficinas com desiners, especialistas em modelagem, tinturaria, enfim, técnicos renomados que auxiliam estes grupos a agregar valor ao produto que fazem. Acho graça chegar no Ceará e pagar 15 pila por uma blusa rendada que demorou horas para ser feita a mão. É desonesto, é desvalorizar o que foi produzido. O conhecimento dá liberdade, independência.

Nomes como Jum Nakao, Ronaldo Fraga e outros (não tenho toda a lista, pois não consta hoje no site) viajaram por recôncavos brasileiros para ministrar cursos das áreas na qual são expoentes.

-http://www.jumnakao.com.br/tlntsdbrsl.html
-http://ronaldofraga.com/blog/?m=201006

O que foge ao universo fútil da moda é a disponibilidade para ver E olhar a beleza e o trabalho estético e técnico em locais improváveis. Não existem políticas regionais de incentivo ao bem vestir. E quando digo bem vestir expresso a possibildiade do autêntico como apresentação estética.

O Brasil pode mais do que ampliar a rede de lojas de departamentos, atacados em centros de compras (25 de maio/SP, Saara/RJ). Lojas Mariza têm históricos de más condições para suas costureiras. Outros já partem para a importação de produtos chineses fabricados por mão de obra escrava.

A relação com a moda pode ser de tantas formas. Defendo que a vida já é por demasiado difícil (sem dramas, ok?) para nos darmos o luxo de fechar os olhos ao belo.

Uma ideia do que pode ser ver no projeto (catálos on line):
http://www.cooperunica.com.br/portal.cgi?flagweb=homepage

Um comentário:

  1. Hum, que delicia! Adoraria ter ido...
    Espero que tenha de novo em POA ano que vem.
    Bj

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