20.11.10

UM "CASO CLÍNICO" DE AQUISIÇÃO DE MODA: cada um compra do seu jeito

Juliana é uma mulher que conheço há alguns anos. Conversei com ela para postar sua história. Como sou psicóloga e isso é um blog (= público): ela virou Juliana. Nome que gosto muito, como dessa pessoa.

Papo vai, papo vem, descubro nela um modo muito particular de construir seu vestuário. Ela me descreve algumas das situações que a levaram a comprar suas peças: um dia foi para o estágio com uma blusa de lã; esquentou muito durante o dia e a blusa de baixo era daquelas que a gente quer esconder (por isso os “antigos” chamam de blusa de baixo). Sem titubear ela sai no horário do almoço e compra uma blusa alegre e cavada para aguentar o calorão do verão sulista. Outro dia, ela relata, saiu de sua casa de carro e de botas. Foi sem rumo achar a companhia de seus amigos. Eis que esquenta novamente, de forma vertiginosa e o programa escolhido foi um passeio no parque (muito comum aqui em Porto Alegre). A saída? Buscar uma sandália confortável; exatamente como aquela que Juliana precisou várias vezes e não tinha no armário.

Enfim, Juliana é uma mulher que compra quando é necessário. Pergunto se há motivo para manter esse padrão de forma de aquisição de moda e ela responde-me associando à questão financeira. Acha que, se tivesse mais dinheiro disponível compraria coisas ao bel prazer, para poder escolher no guarda-roupas posteriormente.

Mas se isso é um “caso clínico” há que se fazerem considerações. Como disse no início conheço Juliana há anos. Fui conhecendo detalhes de sua personalidade, em seu caráter e forma de manifestar sua vontade gradualmente. Posso afirmar com certo grau de segurança que Juliana usa de severa autocrítica para descrever seu modo de vestir. Com o passar do tempo percebi que sua profissão começou a prosperar e lhe dar certos confortos; isso poderia proporcionar-lhe extravagâncias estéticas, mas não. Não digo que ela não passou a exigir mais traços de vaidade, mas nunca exagerados ou em dissonância de seu estilo.

E é isso que eu venho falar dessa personagem real: ela tem ESTILO. Se seu poder econômico melhorou um pouco isso não implica em mudanças de prioridade: viagens, estudo, família e amigos parecem ser alguns dos prazeres de sua vida. A moda lhe garante uma aparência de mulher em consonância com seu tempo e trabalho. Sua formação de vida e profissional lhe garantem um olhar estético delineado e a expressão disso é o gasto certo e preciso em peças que lhe farão sentido. Juliana e sua moda comunicam segurança porque escrevem uma forma possível de ser mulher na contemporaneidade.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu "espaço"( não falo "trabalho" porque pareces ter muito prazer no que fazes...) Adorei o texto pois me identifiquei muito, porque como artista plástica e arte/educadora também tenho conceitos muito nítidos do meu estilo de viver e vestir. Abraços que alinhavam ideias e dasbotoam novos caminhos - Marilia Schmitt Fernandes

    Se quiseres conhecer um pouco do meu trabalho aparece http://varaisurbanos.blogspot.com

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