Nesta semana está acontecendo no Barra Shopping de Porto Alegre um ciclo de palestras que se somam no evento Arte & Moda. Segunda, terça e quarta feiras. Segunda-feira eu fui.
evento no shopping da zona sul
Duas pelestras, conteúdos absolutamente diferentes, uma surpresa gigantesca.
Primeiramente no microfone Giovanni Frasson, diretor de moda da revista Vogue Brasil. Fez uma competente descrissão de como a arte pode estar representada e homenageada na moda. Focou sua apresentação no cenário internacional, tanto da "velha-guarda" como nos maiores nomes do mercado mundial. Lembrou que Marc Jacobs é um grande colecionador de arte moderna; bravo. E só.
Giovanni não tem a percepção de que o tubinho preto da Chanel ou o vestido de xita de Sonia Braga em Gabriela são expressões artísticas que jamais serão esquecidas. E além disso marcam um tipo de sujeito de vive em determinada época: quero dizer que a mulher de Mademoiselle Chanel não era mais tão delicada para usar excessos de tecidos claros e que Gabriela expressou a sensualidade infantil da mulher brasileira (vista lá fora equivocadamente como vulgar e promíscua). Isso é arte na moda. Isto é perceber que a moda expressa algo de intenso e toca as pessoas.
Também esqueceu de mostrar alguns editoriais de sua própria revista, tão artísticos. Os melhores editoriais do mundo, sem dúvida, por apresentar a proposição do sensacional: entre e afete-se ou serás engolido pelas propagandas. Sou partidaria da moda-espetáculo. Os editoriais não tem limite para conseguir este resultado. Defendo que, de uma imagem extraordinária (para muitos sem nexo e ridículas), podemos nos afetar de um elemento (qualquer um: uma cor, textura, peça, cenário, expressão da modelo, etc) e usá-lo para pensar a forma como construimos nossa imagem de vestuário. A vogue tem belos exemplos disso e Giovanni não pareceu ter esse sensibilidade para apontar num jabá ou em outros tantos desfiles belíssimos por aí.
Mas ainda faltou mais: o diretor de moda passou quase que fugindo pela moda nacional. A revista que ele representa é brasileira, mas ele procurou fugir como o diabo da cruz deste tema. Preferiu ridicularizar o estilo da Presidenta Dilma Rousseff (que SÓ USA moda nacional e não abriu mão de sua imagem para parecer alguém que não é = estilo) a dar exemplo em seu trabalho de valorização da moda brasileira.
Patrícia Parenza (de As Patricias) lançou a pergunta brilhante e foi ignoraga, tangenciada. Giovanni mostrou que a moda internacional está invadindo massissamente o Brasil e que a Vogue Brasil lava suas mãos. Não pretende propor uma política de aumento da visibilidade das marcas nacionais e sobre manufatura e moda artesanal sequer falou.
revista não tão brasileira assim
Mas o evento continuou... Se eu não conhecesse a peça diria que foi um paradoxo. A primeira palestra propondo reflexão, pensamento complexo e apurado sobre o vestir e a segunda com um tema estilo auto-ajuda (expressão usada pela própria Cris Guerra num momento bem-humorado de sua fala) tão batido. Mas foi surpreendente!
Cristina Guerra, mineirinha de pão de queijo e sotaque apurado, é o nome e a imagem do blog Hoje Vou Assim. A Cris contou, através de sua história de vida, uma proposta de construção da auto-estima. Mostrou que não teve condições, no final da infância e adolescência, de compor uma imagem de segurança. Foi vítima da moda e, em um corte de cabelo inusitado viu em si uma imagem possível. Ela trouxe fotos suas, emocionou a platéia no slide em que apareceu pouco tempo antes na tragédia que aconteceu ao pai de seu filho Francisco, e nos fez rir dizendo que não está nem aí: se acha a tal. E tem que achar mesmo. Cristina trouxe uma seleção de imagens de pessoas vestidas, de forma extravagante ou muito simples, de coragem. Com coragem de mostrar que abriram o armário e se acharam com "aquela cara" naquele dia, e pronto. Adorei uma imagem de uma mulher longilínea, ruivíssima, com uma roupa ampla e totalmente branca, incluindo ampla bolsa também branca: ela caregava segurança, criatividade e também (porque não) beleza.
Cristina trouxe conhecimentos de tipos de corpo; mas eu achei a parte mais engraçada de sua palestra, pois o que ela mais valorizou, nos deixou emocionadas (praticamente só mulheres na platéia) foi a clareza de que só quem pode nos deixar bonitas somos nós mesmas. O bom-humor de Cristina só acrescenta a importância dos conceitos com que trabalha: é muito difícil admitir que nos achamos as tais e socialmente isso não pega bem. E daí? Ela nos relata que descobriu que, para ela, uma solução para 'chegar lá' é simplesmente ter um bom espelho, portas para ter privacidade e um pouco de sua música favorita.
eu e a Cris Guerra
Cris foi simples e correta. A política da sinceridade que funciona no coletivo. Ela nos propõe constantemente encontros belos com a moda, possibilidades para além (não fora) do consumo. Transmite a imagem de quem usa bem a moda. Não para ficar bonitinha e ganhar elogios, mas para assumir que a moda é deliciosa de usar e que pode nos ajudar de inúmeras formas, mas é preciso descobrirmos quem somos para possibilitar uma afetação. A afetação que Giovanni não soube expressar...
Adorei te conhecer, Helena. Foi muito bom poder te abraçar. E fiquei feliz com as coisas que disse por aqui. Muitos beijos! Cris.
ResponderExcluirHelena,
ResponderExcluircomo sempre voce discorreu muito bem o evento e o que de fato aconteceu (e o que não aconteceu!!)e não raro, a Cris se sobresaiu após a palestra fraca e cansativa do Giovanni Frasson. Parabéns pelo texto!
1abração
Helena! Texto com a tua cara, se posicionando de modo transparente e pensante. Adorei compartilhar um pouco sobre o que estão pensando sobre o ser e a moda. Bj
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