19.6.11

Helen Rödel reticências para o além

Tive o privilégio de conhecer Helen em um evento chamado Pano Pra Manga em meados de um ano em que moda e psicologia era um projeto-sonho e o Brechó de Troca usava fraudas.
Naquela ocasião os depoimentos "centrais" foram dos garotos da Spirito Santo e duas representantes da Renner. Depois chegou a Helen e seu marido Guilherme. Para mim o evento começou aí. Aquela linda Guria de óculos gigantes, representantes de sua expressão de estilo e um namorado apaixonado trouxeram o ingênuo depoimento do esforço do trabalho de Rödel LA para nascer.
Bem, a Helen não sabe como conheço seu trabalho. Helen não imagina minha reação ao ver suas peças no atelier Contextura. Helen não pensa que fico reverberando alegrias ao vê-la na semana de moda na Islândia, no nordeste brasileiro no Dragão Fashion. Desejo que Helen não ocupe seu tempo com o que os mortais espectadores de seu trabalho percebem.
Quando assisti o documentário-conceito de sua coleção MMXI formulei esta hipótese. Vi a imagem linda de uma mulher que gera um trabalho único. Esta coleção tem a beleza de uma maturidade responsável. Ela é adulta, é sensual, é feminina, é elegante, é perfeita. É fruto de uma gestação. 
A imagem de Helen em seu coletivo de produção mostra como uma estilista madura, criativa e consciente é capaz de coordenar docemente uma orquestra de pontos, que nascem de sua mente e passam por suas (dela e de suas artesãs-amigas) mãos com aquilo que muitos esquecem ser fundamental na música: harmonia. Se música é a união de melodia, ritmo e harmonia; Helen demonstra em seus croquis pura melodia, no brincar com carretéis e no desmanchar de pontos o seu ritmo, e no delicioso cafézinho das pausas somado ao diálogo e silêncios criativos pura harmonia. 
Não quero que Helen se distraia lendo textos sobre seu trabalho. Quero que siga podendo harmonizar. 
É meu pensamento-modista do egoísmo. 
É daí que vem meu querer-querer nietzcheano que vai em busca de associações entre moda e expressão do sujeito. Helen expressa na moda um zeitgeist latinoamerica e brasileira. Ela expressa uma cultura, consciência da imigração alemã e a potência da miscigenação que é ser brasileira. Só dessa forma pode retomar a produção de malha retilílea, crochet, tricot e produção local e artesanal com tanta propriedade, forma, potência e tantos sinônimos eu possa usar sem me custar uma redundância. 
Os editoriais da estilista são como um capítulo dentro de sua história profissional. São competentes, livres, com fotografia im-pe-cá-veis. 
Sinto um atraso gigante neste texto. Mas foi importante para eu poder perceber não só a competência profissional da estilista, mas toda verdade que ela traduz em seu trabalho.
Sou uma anarquista bem comportada; uma otimista infantil também. Penso ser possível a autonomia dos sujeitos assim como na possibilidade dos mesmos se expressarem como lhes convier. Imagino uma passarela espetacular para Rödel LA. Penso em cenários, mixagens de sons, iluminações, enfim... um mise-en-scéne que a marca merece para melhor ler sua história. Ela está lá, linda e fácil de entender em seu papel PxB, sem ilustrações. Quando vemos a passarela destes crochets sentimos a articulação do belo com trabalho e singeleza.   A moda é para Helen Rödel uma desculpa para nos encantar e viajar em seus sonhos caseiros, diurnos e noturnos. Em MMXI notamos a sensualidade sutil e elegante que a fertilidade expressa. 
Os pontos de Rödel são LA. A mão de Helen rege precisamente um trabalho que desejo ver continuamente.
Para este trabalho desejo reticências sem fim... até que eu nunca canse de me tramar nas histórias que conta..








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