15.8.11

Consultoria de Moda e Estilo, muito Estilo - algumas confusões

Por que me valho do termo "Consultoria de Estilo" para designar uma atividade é o tema deste post. Na verdade ainda ressaltaria o comparativo com a nomeclatura "Consultoria de Moda".

São atividades novas, sem regulamentação qualquer ou mesmo origem de formação: uma torre de babel. 
Consultoria é barbada de entender: consultor é aquele que dá consulta, quem possui um saber e pretende passá-lo para quem o contrata. É alguém com experiência no assunto em questão e que não tem pretensão de modificar a realidade que enxerga. Isso mesmo: é o velho ditado em prática "se conselho fosse bom eu vendia". O consultor tem esse caráter: bota o dedo na ferida. O jeito de fazer isso pode mudar de profissional para profissional, mas o cerne é esse mesmo. Pretender transformar, revolucionar o guarda-roupas alheio é arrogância, no mínimo. 

E aí começo a pensar a diferença da segunda parte: Estilo e Moda. Eu poderia me esgotar de um milhão de blábláblás sobre a diferença entre os termos; mas vou me valer de apenas este: enquanto a moda é fim (ou melhor: ilusão de fim; excesso, sobra, excedente), estilo é meio, uma forma de Ser (no sentido mais heidgeriano do termo). Ãããã???

A Moda é fenômeno que desde sempre está associado ao luxo, ao desnecessário. Teoricamente precisamos de comida para viver, já Cleópatra necessitava de ornamentos infinitos para dar conta de sua exuberância; assim como diferentes hierarquias em todos os exércitos do mundo (e de todos os tempos) estão demonstradas pelos detalhes no fardamento: Moda exclui, demonstra o quanto tu tens e o outro não; quando na verdade este outro também tem sobrando. 
Os mais ingênuos vão pensar que minha política é avessa a voga e seus meandros perversos. Quem lê pode, eu não: entendo que não há como fugir deste fenômeno, principalmente na era da internet com sua velocidade  de informações/novidades adentrando os lugares mais remotos. 
Somos atravessados por tamanha força imperativa de cores e forma que é infantil achar que não somos permeados por ela. Se usas o mesmo estilo há décadas estará, ainda assim, influenciado pela tentativa desesperada de não ser uma cópia de alguma vitrine, ou seja, ops a moda já te influenciou; ainda que negativamente. Deu para entender? Moda sobra para todo lado e acaba por invadir um pedaço de nossas vidas em roupas, acessórios, música, design de todo tipo, comportamento....

E o tal Estilo? Esse se constitui com algo diferente de ansiedade de ter ou birra de não ter. É algo que se deposita e ainda assim transforam; é algo que incomoda e mesmo assim é necessário; é vital. Não existe alguém sem Estilo, mas há empobrecimento do mesmo. Estilo é o que não é tão claro num olhar despreocupado mas que, com um pouco de atenção, é indissociável de todos nós exatamente porque é o que somos. Ui, psicólogo gosta di cumpricar... 
Estilo é o que somos mas que fica mascarado no meio de artifícios que a Moda impõe. É o jeito de mexer no cabelo, o tempo que levamos para escolher a roupa para usar e o critério também; também é o quanto conseguimos manter tendência após tendência e o que sobrou da mistura que fizemos delas. Estilo é o corte de cabelo que alguém mantém por décadas e também a necessidade frenética que outros tem de mudar; é o que fala sobre valores morais e amorais; é o quanto conseguimos transgredir as nossas regras para vestir, comprar e se relacionar. 
É beeeemmmm complexo. 

Vamos pensar a relação da tal Consultoria com Moda e Estilo... Se consultor é alguém que está fora, que mostra o seu saber para quem o solicita seria apropriado e lógico associá-lo, neste caso, a Moda e não ao Estilo. Certo? Hum... Vamos pensar um pouquinho? Vai doer. Eu prometo.
É uma associação perfeitamente possível e, em algum nível, bastante útil. Imagine filtrar centenas de desfiles pelo mundo inteiro e mais um tanto de novas formas em outros tipos de design que não o da passarela e da vitrine! É informação pacas. Um Consultor de Moda faz isso para quem o solicita: conhece o moda de vestir do cliente (seja ele uma pessoa ou uma instituição) e vai montando um quebra-cabeças de coisas que estão sobrando e outras tantas que faltam. Alguns arrumam tudo e saem as compras para um suposto gran finale. O cliente sai sabendo muito sobre formas e cores, técnicas para aplicar, jeitos de combinar. 
E a Consultoria de Estilo? Propõe o que?? O que pode de um consultor nesta perspectiva?
Minha formação ensinou que um grito de socorro não pode ser abafado com outro grito; que podemos silenciar, escutar, olhar e somente assim potencializar transformações. 
A Consultoria de Estilo consiste em perceber a forma de escolher como vestir-se de cada pessoa e mediar uma forma dela parecer-se com o que desejaria ser. Se cada um gostaria de contar certas histórias para seus netos, o consultor de Estilo é a figura que impulsiona a concretização deste cenário com a vestimenta que ali caberá. O filósofo Friedrich Nietzsche, em seus breves aforismos, define como não podemos fugir de quem somos: "Torna-te quem tu és." Note que não sugere que precisemos nos conhecer, saber que cores combinam com determinada ocasião, horado dia ou ambiente, mas que o gente de cada um ser é singular e extremamente potente. 
Encontrar-se em seu Estilo, fazer as pazes com o espelho é o objetivo final do Consultor de Estilo. Este profissional pretende olhar profundamente seu "jeito de ser" e vai provocar novas e inusitadas soluções para o vestir. Inusitado mas com muito sentido. Situa-se aí a delicadeza da atuação do consultor: não agredir o jeito de vestir de quem o solicita e ainda assim provocar, com suas opiniões, perguntas, propostas, algumas mudanças. As formas são infinitas: olhar fotos antigas (e perceber o que ficou no modo de vestir), vestir suas peças com novas combinações, visitar uma loja de tecidos para experimentar novas texturas, e por aí vai...

Enquanto eu bolava um jeito de explicar tudo isso acima (o atraso do pensamento em relação a ação) escutei as mudanças do meu modo de vesti e me valho da verdade como ilustração: percebi uma mudança natural no meu Estilo e que hoje me compõe. Nunca fui adepta aos tons pastéis. Visual nude ou rosinhas, azulzinhos, verdinhos não costumavam permanecer no meu guarda-roupas. "Para não dizer que não falei das flores" minha pedra semipreciosa predileta é a água-marinha e ponto. Sempre gostei muito de preto e branco, marinho, vermelho, amarelo-gema (me peças para mostrar o bolerinho do X&C que parece um pinto), laranja. Usei muitos tons terra no bom estilo safari. Também compus looks alegres na adolescência abusando do amarelo e de calças dignas de Restart (ui! pior é não admitir, né?). 
Recentemente notei um gosto intenso por um estilo: acho que a década mais fértil culturalmente (consequentemente na Moda também) foi a de 1960. Minissaia, vestido trapézio, popularização e adaptação do tubinho preto dentre muitas mudanças da estrutura da modelagem. Isso tudo faz um sentido enorme quando associamos à (in)revolução política dos países latinoamericanos, efervescência européia: os corpos pediam novas propostas e a Moda respondeu. Visual 60's me foi suficiente. Foi. Aos poucos percebi que as nunces do MEU look sessentinha estavam evidentes na cor. Troquei peças no Brechó de Troca, ganhei (e guardei) outras, comprei mais uma: minha vida não é cor-de-rosa (ainda bem), mas meu guarda-roupas precisou ser. Acumulei peças e faço do meu Estilo um jeito inevitável de vestir. Não há como fugir. Aqui estão as tais peças. Depois dessas fotos ainda adquiri mais um lindo top em troca (pendente o retorno) com uma amiga querida, ou seja, o cor-de-rosa vai demorar a ir embora. Sejam pro trocas ou por um incômodo no estômago que me fez sentido, o rosa tem mostrado uma parte de mim. Fico curiosa para ver qual será a minha próxima cor. Mas posso esperar...


peça trocada no Brechó de Troca


ganhei da minha segunda mãe (sem ciúmes meninas) que sabia que eu ia adorar


minha mãe (de verdade) que é multifuncional fez e eu roubei para mim: agora é usucapião


pra não dizer que não compro em megalojas: liquidação no Renner de trocentos anos atrás


do Brechó da Tia Mariza: impulso maravilhoso!!


também do Brechó de Troca

Um comentário:

  1. Um Este blog é uma representação exata de competências. Eu gosto da sua recomendação. grande conceito que reflete os pensamentos do escritor.

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