1.4.12

DONNA FASHION IGUATEMI - cobertura (???) por Helena Soares

bem, hoje infelizmente não poderei ir ao último dia do Donna Fashion Iguatemi então paro para fazer a retrospectiva que me prometi.

em primeiro lugar eu lamento mesmo não poder ir hoje. a relevância dessa informação já diz de como eu encaro a coisa toda: o evento é de moda. não está escrito se é moda feminina, moda isso ou aquilo; e o último dia se dirige à moda masculina e, principalmente infantil. a maioria do povo não fica com muita vontade de ver isso. eu adoraria assistir a gurizadinha na passarela! mas não vai dar...

aliás isso me leva a única crítica que farei de fato à organização do evento: a presença de crianças na platéia! lamento muito mesmo por vários motivos. os dois principais é a defesa de interesses: criança tem que ficar com criança em um lugar para brincar (e não para ocupar a passarela brincando de modelo antes dos desfiles), e os lugares ocupados pelas crianças deveriam estar recheados de ideias, críticas e observações de estilistas, professores de graduação, artistas, imprensa, etc. o DFI é um evento de tamanho razoável para comportar boa parte desse público. fica aqui o registro!

agora o que vi e o que não vi. mais uma vez lamento não poder estar a todos os desfiles. eu disse TODOS. lembrei do papo de banheiro com uma senhora que desdenhou meu interesse pelo som que vinha da passarela do Entremeios. estava ali para badalar, imagino. uma pena. mas isso só corrobora para a análise que fiz do último DFI que está aqui no blog. não me estenderei aqui nessa crítica pois Poá é Poá e isso merece uma análise mais complexa. escolhi falar do que fui fazer lá: ver os desfiles e ver gente que eu adoro.

na quarta-feira cheguei para o desfile de Tufi Duek. como sempre competentíssimo em luxo e inspiração, mas  confesso que queria mais. achei que o desfile de primavera/verão estava mais caprichado na linguagem, na continuidade. mas a presença do estilista foi muito digna. acho isso importante, essencial quando há loja na cidade. e quando não há é uma forma de reverenciar o interesse da população fashionista em desejar sua presença ali. 
isso me leva ao desfile de Carlos Miele.  onde está Miele? acho que não fui a única. achei total desrespeito o estilista se valer do gaudério (não vi gaucho) como inspiração e não devolver presencialmente isso. se não foi por motivo de doença não perdoo. gostei da linguagem: enxerguei o gaudério na maioria dos looks, achei as ankle boots muito apropriadas. de modo geral o luxo era a cara da Pe. Chagas, ou seja, a cara de uma parte de Poá: bacana. mas não vi coerência com o belo jeans wear: não dialogaram, foi um corte no desfile. a música foi outro corte: me senti na América Central e não num CTG. penso que, se Miele se jogasse mais daria uma puxada mais melancólica nas cores e encomendava uma milonga nostálgica tocada no violão. bah... cheguei a me arrepiar; já pensou? 
e tivemos ainda a Nara Lisbôa no Entremeios! uma feliz surpresa. essa sim justificável em sua ausência: mora em Paris e nos representa lá sem ganhar milhões (na verdade não tenho maiores informações, mas é o que a coerência passa) para ir e vir. uma linguagem única, lindo. não consegui ver de perto, pois estava cheio, então perdi detalhes, lamentei. achei um rico visual rústico, coerente, a cara da imagem da estilista. tão bonito quando a gente vê esse encontro! ainda na quarta-feira tive a felicidade pessoal de conhecer algumas pessoas: foi uma belo dia!

chega então a quinta-feira. faltei uma reunião de trabalho para ir ao DFI. o que tu tens a ver com isso, né? hahaha bem, por alguns motivos valeu a pena. infelizmente perdi os primeiros desfiles e foi impossível acessar passarela do Entremeios. primeiro assisti MOB. achei bacana. street wear de qualidade. uma sequencia de estilos baseados nas diferentes tendências para out/inv, organizado, coerente. não me tirou suspiros, mas me deixou com vontade de ver algumas peças de perto para conferir a proposta de qualidade em acabamento da marca, pois desconheço. 
aí veio meu filme predileto do fast fashion no DFI: Renner. O desfile do Renner costuma ter ótimo stylist, sempre dividido comercialmente pelas seções. Mas teve mais: uma coreografia de street dance superalegre, divertida e com stylist ótimo e depois a presenta do ator-celebridade Marcelo Cerrado. Achei tão querida a ideia da Renner de escolher ele especificadamente. Deu um caráter leve ao desfile, já que sua imagem ainda está colada a personagem cômico da última novela global. Sair do desfile da Renner é como sair de um filme do Spielberg (um Indiana Jones, por exemplo): dá um gás e, no caso do desfile, uma vontade de comprar várias pecinhas básicas que estão faltando no guarda-roupas (aquela camiseta de cor estratégica, uma camisa de seda branca que ainda não rolou, uma botinha  - pois a minha já se foi há horas - etc........). Todos sabem que não é meu estilo, mas a Renner é boa no que se propõe, a melhor.  
E neste dia ainda tivemos Victor Hugo com seus lançamentos: roupa. Vou me queimar para todo o sempre com a frase que virá (mas como sou um ser mutante, e que me responsabilizo pelo que profiro, vamos lá). Nunca (nunquinha) gostei de nenhuma bolsa da marca. Sempre achei com cara de fast fashion que quer ma não consegue crescer. Um pena, pois sempre se puxaram nos detalhes. O material e logo excessivamente exposto que nunca me atraíram. Continuo achando isso. As bolsas foram o pior do desfile. Também não amei o conjunto: achei que faltou linguagem. Mas... (e isso não é para amenizar a detonada que acabei de dar) gostei muitíssimo de várias (a maioria) das peças que foram apresentadas. Uma boa parte não tem absolutamente nada a ver comigo; entretanto foram criativas, coerentes ao estilo da marca e superiores na escolha do material em relação às bolsas. Tecidos nobres e belos: brocados, bordados, as sedas dos lenços (ah, os lenços... se um dia a marca me perdoar e quiser me presentear, por favor um lenço!! amei todos!!), a elegância particular de cada look, o acabamento. daria uma ótima vitrine, faltou unidade. pessoal, lembrem dos lenços! 
na sexta-feira consegui chegar correndo para a Mandi. gostei. não gosto da temática deserto estadunidense/texano, mas o de que importa o que gosta, não é? difícil manter um desfile inteiro de street wear com uma temática, mas a Mandi conseguiu. eu até queria mais. eu acrescentaria Tom Waits na trilha sonora; afinal, eu sempre quero mais. se seguir assim a Mandi vai longe. 
no Entemeios só consegui me estapear por um espacinho para ter a feliz visão do desfile do Déh Dullius, DZBL (Déh, o que representam as letras? fiquei curiosa ;-)) Amei. Não há absolutamente nada a ver comigo, mas eu amei. uma mistura de Herchcovitch com Samuel Beckett. e é sobre isso que eu gostaria de exaltar: DZBL é uma marca de competência infinita ao teatro. Déh poderia seguir toda a vida criando figurinos para o teatro e a dança que nunca se esgotariam as possibilidades. um ar de street wear de luxo com breves ares de Osklen, mas o drama dos palcos. taí um desfile que eu gostaria de ficar no backstage (aliás citarei essa lembrança da boca de quem saiu, mais além); ou nas coxias diriam os artistas dos palcos... eu prefeririam ter visto os olhos de Déh, seu brilho, mas isso é o menor em relação a todo o resto. make e cabelos excepcionais!
e chegamos ao sábado. cheguei no andamento de Jaqueline Lunkes, ganhahdora do último Next Generation. uma feliz supresa! o tema era o medo. me tocou bastante. a linguagem foi perfeita. acabamentos excelentes. a voz de Ktea da Eskola de Costura embalando o desfile: adorei. como boa moradora de Poá, localizei o medo de Jaqueline em um espaço/tempo portoalegrense que sequer a estilista deve ter vivido. isso não importa, afinal a coleção é daqui e a cultura nos cerca, é nos é passada sem percebermos. vi no desfile o medo da pequena burguesia portoalegrense do agito boêmico/cultural do Bom Fim na década de 1980. é como se escutasse Nico Nicolaievcky cantando Berlim - Bom Fim com uma voz rasgada. Vi os punks gaúchos, vi o algomerado em frente ao Bar João e no Zé do Passaporte. também vi Liegi Massi circulando como representante do cenário fashionista e muuuita gente louca e interessante que não dá para citar aqui. Não senti o medo que a pequena burguesia sentiria, senti uma vontade de tomar uma cerveja com os modelos e Jaqueline e ali na Lanchera (Lancheria do Parque) ou, quem sabe, um suco no pós-noite quando o lugar já tivesse aberto. Jaqueline não teve medo, ouvou, se divertiu, brincou. Notei isso também quando a vi emocionada recebendo os cumprimentos "dos seus" (eu fui lá abraçá-la e senti o carinho também). quero vê-la em muitas passarelas. torço para Poá absorvê-la. fica aqui a sugestão para Lili Má e Makumba a acolherem temporariamente. vai lá Guria, manda ver!
escolhi não assistir Trópico pois estava exausta e fiquei conversando com amigos e fui comer. aliás me rendeu outras informações para o próximo post. não dá para fazer tudo, infelizmente. 
comei, na passarela principal, pela C&A, a fast fashion multinacional. a megastore do fast fashion não é brasileira e tentou com a presença de modelo daqui (brasileira) dar uma identidade. ficou a cara do evento, mas nem nisso convenceu. Renata Kuerten foi quase ignorada pelo público de Poá/DFI que adora uma celebridade. O desfile teve todo o tempo um apelo ao fugaz e ao sexual. Mas isso não chegou a me tocar como linguagem. Faltou isso também. Sinto que Poá desejava ver sua parente dos Pampas internacionais e garota propaganda da potência: Gisele. estarei delirando? foi o que li do inconsciente da platéia. 
saí correndo para a passarela do Entremeios para ver o desfile (disparado) mais impressionante da noite: Carlos Bacchi Filho. para reafirmar a potência sem fim da serra gaúcha, o pupilo de Greice Antes confirmou tudo o que eu já havia visto de seu trabalho (lá na Pandorga e virtualmente também). sabe quando a moda se recuperou da necessárias simplicidade do pós-guerra e se fez plena em luxo de criatividade e materiais? Bacchi trouxe isso aliado a elegância que a gaúcha não sabe que tem. leve, excepcionalmente bem acabado, elegante, feminino. é tanta beleza que quase cheguei a desejar ser a musa de Bacchi (já pensou? hahaha se a gente não ri cai na fugacidade do fast fashion da qual o estilista jamais será - ainda bem). suas criações fazem emergir nas mulheres este devir de feminilidade que a pós-modernidade deixa líquida e escapando de nossos gestos. meu desejo é ver nas ruas a mulher que Carlos Bacchi imaginou: linda, feminina, inteira, potente. não posso deixar de falar do aspecto técnico que também fica na linguagem do desfile: uma imagem idílica do trabalho árduo e preciso das mãos que desenham, modelam, cortam, costuram, bordam. desejaria para Carlos Bacchi a possibilidade de fomentar o artesanato do bordado. explico: muitos falam da morte do artesanato gaúcho, da arte nas mãos; e o estilista inventa um jeito de demandar novos profissionais da área para dar conta de sua produção. ao final do desfile lhe cumprimentei e ele (educadíssimo) convidou a conhecer seu atelier em Caxias do Sul. imaginei tal atelier (num futuro próximo) com velhas bordadeiras corrigindo o ofício das mais jovens. sua aparição no final do desfile foi coerente: discreta, chique. no que toca meu lado consumista eu assumo: quero passar todos os meus aniversários dos próximos anos com um vestido de Carlos Bacchi Filho. 
a Saad, da Twin-Set assisti de fora. gostei de algumas coisas, mas as estampas achei desnecessárias. alguns conjuntinhos funcionaram outros não. o ton-sûr-ton funcionou bem. cada azul mais lindo. não posso opinar acerca da linguagem pois perdi informações. 
quase perdi Remodê de Mariana Pesce (uma loucura a fila para Glória Coelho). mas não dava para perder, né. é tudo a ver com meu trabalho de ampliação do tempo de uso das peças. adorei. tudo muito bem feito, planejado. pessoalmente quero falar com Mariana para que me conte a história de cada peça tal qual num Brechó de Troca. para mim toca assim a moda que reaproveita materiais: sempre quero saber mais, ouvir mais. e por falar em reaproveitamento, em herança, em seguimento, a escolha da duplinha transgeracional para tocar sucessos foi ótima. sobrenomes nobres do cenários músico Bela Leindecker (que não saiu do Piratini, mas é talentosíssima, hehehe) e Erick Endress são sempre uma delícia de escutar. Mariana vai receber uma visita minha em breve para papear sobre desejo, histórias e quem sabe eu levarei um chimas para brindar o encontro. me senti caminhando pela Eudoro Berlink ou qualquer rua do Mont Serrat e Moinhos. me senti usando um moletom e largarteado com a gurizada pensando no que eu faria quando acabasse o colégio: seguir pensando a moda? é... valeu Mariana! 
para terminar os desfiles Glória Coelho fez aparição diplomática em vídeo de dedicatória e agradecimento. confesso que preferiria tê-la ao vivo. não sou de tietar, mas dá vontade, né? e não só por isso, é óbvio. queria ter visto mais modelos. fiquei um pouco ressentida, minha alma sentiu um ar de primeira fila desprezada. algo como "podia ter nos oferecido mais, mas não foi possível, desculpe". sou fã da Glória, acho seu trabalho impecável e nem vou entrar no controverso (para mim) cenário brilhante familiar: é a maior matriarca da moda brasileira! gerou a maior promessa da moda nacional, etc etc. mas sou de Poá, não adianta, tá colado na pele. 

queria acrescentar o que Greice Antes e Milene Bordini me disseram sobre seus desejos futuros sobre o DFI:  quero assistir do backstage, disseram as duas. Talvez seja uma delícia mesmo. 
também queria que os desfiles usassem menos "bate estaca" na trilha. nesse aspecto a passarela do Entremeios dá de mil. aliás vale lembrar o sempre competente trabalho da Débora Tessler nesse cenário!
adorei os encontros, os papos, me incomodei com várias bobagens esperadas, mas não vale mais um parágrafo desse imenso texto.
valeu


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